Simonal
Atualizado: 4 de fev. de 2020
por Ana Boucinhas
Graças às intrigas da mídia, os brasileiros nascidos depois de 1970 não tiveram a chance de conhecer o maior showman que o mundo já teve: O espetacular Wilson Simonal.

Hoje, com os super microfones, com a parafernália eletrônica, onde se incluem luzes, telões de led e fumaças de todas as cores, não é difícil encher um campo de futebol com animados jovens que vão assistir ao show de algum artista.
Mas não houve e nem vai haver, é claro, nenhum cantor que provoque só no gogó a entusiasmada participação de milhares de pessoas num Maracanã lotado.

O filme ora em cartaz, “Simonal”, dá uma pincelada no que era o excelente cantor. A proposta, a meu ver, foi a de mostrar como foi a história na realidade. O cantor passou a ter o estigma de dedo duro graças a uma infeliz coincidência.
Aliás, existissem à época as mídias sociais, de imediato teria sido questionada a relação do salafrário contador com a ideologia contrária ao regime militar. Gil e Caetano teriam confirmado as alegadas “dedodurices” por parte do Simonal. Mas todos de então eram obrigados a aceitar o que era dito pelo quarto poder.
Sendo ele um super astro, o dito escândalo não poderia ter sido de menor porte. O resultado todos conhecem. Passou para o inconsciente coletivo ter sido ele um parceiro fidelíssimo da ditadura, merecendo definhar no ostracismo até a sua morte.

Seria interessante os jovens assistirem ao filme. Com certeza desconhecem também o tamanho do preconceito racial até poucas décadas atrás. Se um negro rico e famoso não podia frequentar locais de ricos brancos, imaginem o quanto deveria incomodar o sucesso de um crioulão!
A própria comunidade negra enfiou o rabo entre as pernas, talvez por não ter voz para peitar as instituições. Mas Simonal, pelo seu talento, deveria ter sido uma bela bandeira pró negro.
Que o fim a que se destina o filme tenha sucesso. Mas lamento, e muito, que duas gerações inteiras tenham perdido a oportunidade de ver um pretão cheio de charme, com uma ginga indescritível, naturalmente empombado e que tinha uma branca maravilhosa do seu lado chamada Tereza.
De qualquer jeito, como dizem os lusitanos: Simonal, oops, Inês é morta…
Mas que fiquem registrados para a posteridade os seus shows!!!